Que tal um creme natural feito em casa? Aprenda o passo a passo para fazer o seu

Que tal aprender a fazer um creme natural ou loção usando apenas ingredientes de origem vegetal, de forma segura, na sua própria casa? É isso que vamos te ensinar neste artigo.

Mas, antes de fazer um creme natural, é preciso aprender a fazer um creme em si. Independente do apelo que seu cosmético terá, ele ainda assim é um cosmético e segue as mesmas técnicas e procedimentos dos tradicionais. O que vai diferenciá-lo dos produtos convencionais são os tipos de matérias-primas e identidade que você colocará.

Aqui você vai aprender a fazer um creme ou loção base, totalmente do zero. Assim, você terá autonomia para montar sua própria formulação, que pode ser adaptada para um produto de corpo, rosto, cabelo etc. Afinal, o procedimento para uma emulsão (creme) é sempre o mesmo.

• Saiba mais: Cosmético natural: entenda a função de cada ingrediente
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Ou seja, o que mudará são os ativos de tratamentos que você irá colocar no final (fase termolábil), a alteração do Ph respectivo a cada parte do corpo e os ingredientes escolhidos.

Você também pode alterar a viscosidade para deixar seu creme natural mais cremoso, gelificado ou mais fluido, fazendo do seu creme um simples leave-in ou até mesmo um creme super cremoso e nutritivo.

Como referência, vou dividir com você uma receita de creme capilar super hidratante de aveia, que servirá para desembaraçar seu cabelo, definir seus cachos e por aí vai. Você pode alterar a quantidade de cada ingrediente com as orientações que você terá ao longo desse artigo.

É importante dizer que aqui é apenas o ponto de partida, fique à vontade para criar o quanto quiser! Vamos lá?

Materiais necessários para fazer seu creme natural

Alguns equipamentos são essenciais para fazer seu creme natural, então recomendo que você já deixe o material necessário separado. Com o tempo você vai notar que usa mais algumas coisas do que outras, mas segue a lista essencial para um fazer um creme natural:

• Panela para banho maria;
• Becker de vidro ou tigelas comuns;
• Espátula de silicone;
• Balança de precisão;
• Medidor de PH (tiras ou lazer);
• Termômetro;
• Mixer ou fuê;
• Embalagens.

O creme natural ou loção é resultado de emulsão. Veja como fazer

Para aprender a fazer um creme natural você precisa, antes de tudo, aprender o que é uma emulsão. É esse processo que vai resultar no seu creme ou loção no final. Vamos lá?

Emulsão é a mistura de dois líquidos que naturalmente não se misturam, como óleo e água. Como em uma formulação de creme esses dois líquidos estão presentes, para deixá-los uniformes em uma única solução, precisaremos de um ingrediente chave que será o responsável por prender gotículas de água dentro dos óleos ou vice-versa.

O nome desse ingrediente é emulsionante.

Quer exemplos de emulsões comuns no dia a dia? Então olha só:

• Manteigas (gotículas de água dentro do óleo);
• Maioneses (gotículas de óleo dentro da água);

Para que essas manipulações funcionem e você consiga fazer seu creme natural, elas precisam ser divididas em 3 etapas, também conhecidas como “fases”.

Essas fases são separadas conforme a solubilidade de cada ingrediente. Por exemplo, todos os ingredientes solúveis em água entram na fase aquosa, todos os ingredientes solúveis em óleo entram na fase oleosa. Isso não vale para os ingredientes mais sensíveis que não podem ser aquecidos, pois perdem suas propriedades. Esses ingredientes, independente de serem oleosos ou aquosos, entrarão na fase termolábil.

Ficou confuso? Calma, todas essas informações você terá com o fornecedor no ato da compra!

Conheça as fases para fazer seu creme natural

Confira agora quais são essas fases e um pequeno glossário dos termos que vamos utilizar ao longo do tutorial para fazer um creme natural:

• Fase Aquosa: fase composta por água e componentes que se dissolvem na água.
  • Veículo: Será onde sua formulação será diluída. Quer um exemplo simples? Água;
  • Umectante: É o que puxa água da atmosfera, deixando o ambiente mais hidratado;
  • Espessante: Aumenta a viscosidade de um produto deixando-o mais gelificado.
• Fase Oleosa: Ingredientes oleosos e solúveis em óleo.
  • Emulsionante: Permite que o óleo se misture com a água;
  • Emoliente: Melhora o deslizamento e lubrificação da pele/cabelo;
  • Agente de consistência: Proporciona cremosidade nos produtos;
• Fase Termolábil: Tudo que não pode ser aquecido. São os ingredientes que, se aquecidos, podem ser danificados ou perder as propriedades.
  • Conservante: Evita a proliferação de fungos, bolores e leveduras;
  • Antioxidante: Impede a oxidação dos componentes oleosos, rancificação (decomposição) e mudança de cor;
  • Fragrância: Responsável por acrescentar cheiro nos produtos;
  • Ativos: Acrescenta tratamento nos cosméticos.

Entenda os ingredientes usados para fazer um creme natural

Agora que você já está familiarizado com os termos que usaremos para fazer o creme natural, vai entender, por fases, cada componente e a porcentagem utilizada nas manipulações.

O que você vai ver a seguir é o que chamamos de classes de matérias-primas. São os tipos de ingredientes primordiais para uma emulsão de sucesso. É como construir uma casa: onde precisa de tijolos, cimento, areia etc. Neste artigo você vai conhecer a classe de matérias-primas para um creme natural, mas existe para shampoos, condicionantes, sabonetes líquidos, dentre vários outros.

Atenção: Toda vez que eu falar de alguma formulação, vou falar em porcentagem. Isso porque o certo é sempre formular em porcentagem (%) e depois converter para gramas. Nesse meio, não usamos medidas de colher, copo ou xícara, por exemplo.

Então, se eu tenho um creme de 100 gramas, e nessa formulação foi usada 70% de água, pese 70 gramas de água (Sim, em gramas porque são todos pesados na mesma unidade de medida), 10% de óleo vegetal de 100 gramas de produto, então serão 10 gramas de óleo vegetal. Cada um pesa da maneira que achar melhor. Assim, a internet tem vários conversores de medidas, mas o ideal é usar uma balança de precisão.

Ao lado de cada informação a seguir terá a porcentagem sugerida para cada ingrediente.

Fase Aquosa

Veículo – QSP (Quantidade Suficiente Para)

Aqui colocaremos tudo que for solúvel em água. A água não pode ser da torneira e nem filtrada porque tem grande quantidade de elementos químicos e minerais, e isso afeta a qualidade final do creme natural. Portanto, o ideal são águas que têm o PH 7, que é neutro. Quer exemplos? Água destilada, água deionizada, desmineralizada.

A quantidade de água será sempre o que faltar para completar os 100% da formulação. Por isso usamos o QSP.

Como calcular quanta água usar no seu creme natural?

Suas formulações têm que ter quantidade suficiente para chegar a 100% (QSP = Quantidade Suficiente Para). Ou seja, se todos os ingredientes que você utilizou até agora, fora a água, deram 35%, você precisa colocar 65% de água para completar a formulação de 100%. Se todos os ingredientes somaram 45%, então você precisará completar com 55% de água.

Quer um exemplo? Vamos imaginar um creme natural de 240 gramas. Nesse caso, 240 gramas é igual a 100% do lote total do produto. Se você tem 72 gramas de ingredientes, isso equivale a 30% de 240 gramas. Logo, precisa completar com 70% de água, que dá 168 gramas (mesmo sendo líquido, deve ser pesado em gramas) para totalizar os 240 gramas da loção.

A quantidade de água influenciará na fluidez do seu cosmético final.

Umectante – 1,5% a 5%

Ele serve para evitar o ressecamento em uma formulação e na nossa pele e cabelo. Sendo assim, é o ingrediente responsável por puxar a água da atmosfera, mantendo o ambiente mais hidratado.

Exemplos comuns de umectantes :

• Glicerina vegetal;
• D-pantenol (vitamina B5);
• Sorbitol.

Espessante – 0.1% A 3%

Goma xantana e goma guar são exemplos de espessantes naturais que engrossarão um creme natural, deixando-o gelificado. Quanto mais espessante colocar, mais viscoso o creme fica. Do contrário, quanto menos espessante, mais fluido.

Fase Oleosa

Emulsionante – 2% A 10%

O emulsionante em uma loção é primordial para o sucesso da receita de creme natural. Sabemos que óleo e água não se misturam, então esse é o ingrediente responsável por misturar os dois. Você simplesmente precisa dele se não quiser que sua loção vire bifásica – que ocorre quando o óleo se separa da água e forma duas partes no creme.

Dosagem da aplicação: 5% a 10% em cremes e loções e 2% a 3% em emulsões líquidas.

Quanto mais emulsionante colocar, mais consistente ficará o creme, e vice-versa.

Exemplos de emulsionantes naturais:

• Cera de coco (estearato emulsionável);
• Olivem 1000;
• BTMS (Metossulfato de Behetrimonio & Álcool Cetoestearílico )
• Produtos capilares
• Dub base expert
• Montanov
• Coco glucoside

Agente de consistência – 2 % A 5 %

O agente de consistência dá cremosidade ao produto, deixando-o mais denso e encorpado. Geralmente os agentes de consistência são álcoois graxos, que às vezes estão presentes em emulsionantes, dispensando sua utilidade, como é o caso do BTMS.

Exemplos de emulsionantes naturais:

• Álcool cetílico;
• Álcool cetoestearílico

Diferença entre o agente de consistência e o espessante: 

• Agente de consistência deixa o produto mais cremoso;
• Espessante deixa mais gelificado

Emoliente – 5% A 25 %

Óleos e manteigas

A quantidade de emoliente dependerá do tipo da sua pele e do toque desejado para o creme natural. Se você tiver a pele muito oleosa, talvez seja melhor não passar dos 5%. Mas, se o intuito é um creme de tratamento capilar, pode ser usado até 35%.

Entenda: Todos os emolientes têm que caber dentro desse valor de 5% a 35% . Por exemplo: 20% do total de emoliente: 10% de óleo vegetal + 10% de manteiga vegetal = 20% de emoliente!

Óleos vegetais

Há muitos óleos para você se aventurar nas escolhas. Cada um com uma propriedade específica que irá influenciar grandemente na sua formulação. Óleos mais leves como óleo de jojoba e semente de maracujá são mais fluidos e de fácil absorção. Portanto, são indicados para peles mistas ou oleosas.

Já os óleos de buriti e abacate são mais nutritivos. Sendo assim, são indicados para cabelos e peles ressecadas.

Fase termolábil

Conservante– 0,6% A 1,2%

Tudo que houver água na formulação aumentará a proliferação de fungos, bactérias, bolores e microrganismos. Portanto, para que você tenha uma durabilidade maior nos seus produtos é essencial que use um conservante. Mas claro, livre de Parabenos e Formaldeídos.

Apesar de eu ter colocado aqui a dosagem sugerida, você deve sempre respeitar a dosagem indicada pelo próprio fabricante.

Exemplos de conservantes naturais:

• Conservante Livre de Parabenos & Formaldeídos (Procure por esse nome mesmo);
• Conservante verde;
• Conservante “Preservative free” /Spectrastast (autorizado pela ECOCERT).
• Nipaguard SCE (autorizado pela ECOCERT)

Antioxidantes: até 1%

Esse é um aditivo bem utilizado para os cremes naturais, que vão evitar a oxidação e ranço (decomposição) em tudo que houver óleos e manteigas vegetais, aumentando a durabilidade.

Conservantes e antioxidantes são diferentes. Enquanto um é para a água e o outro para os óleos.

Exemplos de antioxidantes naturais :

• Oleoresina de alecrim – 0,2%
• Vitamina E – 1%

Ativos e fragrâncias – de 0,5% a 1,5%

Sempre que você ler em um rótulo informado “antiqueda, rejuvenescedor profundo, anticaspa etc” provém dos ativos, que são substâncias que adicionam tratamento nos produtos.

De modo geral, os óleos e manteigas vegetais já nos proporcionam tratamentos – principalmente fisiológicos. Porém, na cosmética natural o principal ativo de tratamento são os óleos essenciais que também servem para proporcionar cheiros incríveis. Mas, não devemos ficar limitados. A natureza é grandiosa e tem muito a nos oferecer nos dando opções de extratos vegetais, proteínas hidrolisadas, hidrolatos, etc.

Óleos essenciais :

• 1% para tratamentos em áreas específicas como rosto, cabelo, etc.
• 4% se o intuito é a fragrância.

Dica para as medidas do óleo essencial: 1ml = 20 gotas (aproximadamente)

Passo a passo para fazer seu creme natural

Independente da sua formulação, é necessário que você siga uma regrinha básica padrão para quase todas as receitas. Veja quais são:

Misture e aqueça a fase aquosa

Misture todos os componentes que compõem a fase aquosa em um único recipiente, que no caso, seria o veículo, espessante e umectante. Se na sua formulação tiver espessante, você precisa dissolvê-lo na glicerina vegetal antes para depois ir jogando a água aos poucos. Se não houver espessante, apenas misture o umectante na água.

Após feita a mistura, aqueça a fase aquosa em banho-maria até atingir – no máximo – a temperatura de 80º C (por isso precisamos do termômetro culinário).

Derreta a fase oleosa

Enquanto a fase aquosa está sendo aquecida, você precisa aquecer a fase oleosa. Aqui serão derretidas as ceras, manteigas, emulsionantes, e também iremos homogeneizar com os óleos vegetais para que tudo se torne um líquido apenas. Esse processo é feito em banho-maria (ou fogão elétrico como na foto ao lado).

Eu aconselho derreter primeiro as ceras (caso esteja presente na sua receita) porque demora mais para dissolver, e só depois ir acrescentando as manteigas e, por último os óleos, porque não queremos perder as propriedades dos nossos ingredientes expondo-os muito tempo a temperaturas altas. Controle a temperatura para que não ultrapasse os 80 ° C.

Misture a fase oleosa + aquosa

Quando as duas fases estiverem na mesma temperatura (70ºC a 80ºC), misture a fase oleosa com a aquosa. Nesse momento, você deve mexer a parte aquosa (com o mixer ou fuê) e ir adicionando a fase oleosa sobre a aquosa. É muito importante que a fase aquosa esteja sob agitação.

Continue batendo a mistura por pelo menos 3 minutos. Bata as duas misturas até ficar bem homogêneo. Nesse momento você verá os dois se misturando ficando mais encorpado e mudando a coloração. A temperatura deve ser a mesma para que os dois se misturem. Se um tiver com 60ºC e o outro com 70ºC, sua formulação pode não ficar estável. Ou seja, pode haver uma separação de fases depois de algumas horas.

DICA: Abaixo você está me vendo fazer a mistura com um fuê e com um mixer. Achei importante mostrar as duas opções para que você saiba que é possível. Porém, com o fuê demorará muito mais para ter o resultado desejado. Se tiver fazendo uma grande quantidade, então você precisará do mixer.

Você só saberá como ficará a consistência final depois que a loção esfriar.

Esfrie a formulação

Agora, depois dos dois misturados, você precisa resfriar a sua formulação. Nesse momento, você pode deixar um pouco a mistura descansando até chegar à temperatura ambiente, abaixo de 45ºC.

Acrescente a fase termolábil

Agora, podemos acrescentar a fase termolábil. No nosso caso serão os antioxidantes, conservantes e os ativos de tratamento. Por serem produtos sensíveis é necessário colocar somente depois que a nossa loção atingir uma temperatura abaixo de 45ºC. E, volte a misturar até perceber que estão todos os ingredientes igualmente misturados.

Note que a consistência do produto já está bem mais encorpada após estar em temperatura ambiente.

É importante ressaltar que você só saberá a consistência real quando a emulsão estiver totalmente fria. E, a quantidade de emulsionante que você colocar vai influenciar muito na consistência final.

Agora já pode fazer seu creme natural

Até aqui você aprendeu como fazer uma emulsão, que é a mistura de água com óleo (fase aquosa + fase oleosa). Mas, existem muitas receitas das quais não precisará colocar água, como nos casos de batons, lips balms, pomadas de tratamentos, desodorantes sólidos, tratamentos de umectação capilar, manteigas corporais, entre outros. Nesse caso dispensa-se a fase aquosa, conservante e o emulsionante. São manipulações mais simples e bem fáceis de fazer.

É importante ressaltar que todos os ingredientes citados são os básicos para o sucesso de uma formulação, mas as possibilidades são inúmeras. Com o tempo você vai perceber que é legal ter algum ingrediente para estabilizar o ph do produto de acordo com o ph da pele ou do cabelo. Todos os ingredientes você encontra à venda na internet!

Para criar um creme de cabelo ou condicionador é necessário um emulsionante catiônico para equilibrar as cargas elétricas do fio e propor um efeito condicionante e desembaraçante. Para isso, eu uso o BTMS.